Mulher-Maravilha / processo (Márcio Rampi)


Em maio deste ano, estive na Feira do Livro de Cachoeirinha/RS apresentando minha graphic novel Lester em um stand que montamos. Lá, consegui fazer algumas “ilustrações ao vivo”, e uma delas foi essa da Mulher-Maravilha que já apresentei por aqui.

Diferente de outras, eu não consegui finalizar a tinta dela na Feira, apenas o lápis, e depois acabei levando um tempo para fazer isso, mas o resultado ficou bem interessante. Fui apresentando ela (a ilustração) nos meus canais aos poucos (primeiro o lápis, depois arte-final, depois cores) e resolvi juntar tudo aqui para dar um ideia, mesmo que não uma ideia completa, de como foi todo o processo.

Apesar de gostar do lápis, e de ter me dedicado por muito tempo ao desenho acadêmico, nas ilustrações para quadrinhos, com o traço mais “cartunesco/estilizado”, acabo não primando muito pelo lápis elaborado – as definições acontecem sempre na arte-final. Pode-se observar na imagem acima a diferença da etapa do lápis (que está ali fotografada, mas dá uma ideia de como não está 100% definida) e a etapa tinta (abaixo). Muitas hachuras e muito da iluminação do desenho tem suas linhas definidas na etapa arte-final. No lápis, não posso chamar de esboço (mesmo que a foto não mostre lá muito bem), mas é, digamos, um "esboço mais acabado".

Para mim, o esboço simples e a arte-final que define as coisas é sempre um movimento de risco, admito. Sei que muitos também fazem assim e sabem o que quero dizer com “risco”, que é aquela sensação estranha de que você não pode errar (mesmo que no fundo possa e vá). Você sabe o que quer fazer e como fazer, mas sabe também que pode errar – e é essa equação que vai deixando o processo muito interessante.

Ilustrar é meio como jogar: você sabe jogar, e sabe onde joga melhor e não. E onde você não joga melhor, mesmo que se aprimore, sempre acabará por cometer deslizes, e um pouco da química está nisso - em saber conviver com os deslizes e sempre aprender com eles. Depois de uma vida ilustrando, você cresceu com aquilo tudo, e é como suas necessidades mais básicas: você as entende em sua plenitude, e vai aprendendo a conviver com os limites da coisa toda.



A etapa “cores” dessa ilustração (acima) é bem interessante, pois tinha determinado que não iria fazer as cores. Queria conviver um tempo com uma ilustrações que fosse só em preto e branco, mas acabou sendo impossível evitar a sensação de “colorir para ver como consigo fazer”, e acabei fazendo. As cores da Mulher-Maravilha são cores primárias, o que deixa o desafio ainda maior. Confesso que comecei bem menos empolgado com o resultado mais duro no começo do que fiquei no final – eu, particularmente, gostei bastante.

Quando iniciei o lápis, tirando a ideia do que via na mente para o papel, havia imaginado a personagem com um ar titânico, forte e meio “alto”, e a colorização que consegui acredito que tenha ajudado a imprimir essa aura ainda mais na ilustração.

Bom, espero que tenham curtido essa não tão pequena explanação do passo a passo dessa ilustração. É apenas um pouco do processo todo, que se vamos adjetivar e analisar sempre acaba dando uma tese, mas simplificando é mais ou menos isso:
- ideia,
- esboço/lápis não tão rascunho assim,
- tinta definindo coisas que o lápis não definiu,
- cores assinando com a ideia toda da ilustração.

Um grande AbS e bju no coração de todos!
Márcio Rampi - 12 de julho de 2016

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