Sobras do processo de Abutres – parte 6 Lost, “mão grande” e Iron Maiden


































Fechando mais esta semana sobre as sobras e referencias de Abutres No Fim do Mundo, falarei sobre a questão do roteiro, sobre como foi escrevê-lo. Depois de ter encontrado a obra de Kafka adaptada para os quadrinhos no Desista! do Peter Kuper e de ter me determinado a fazer uma HQ inspirada em um conto do autor, e depois de alguns desenhos de pés e abutres, era então chegada a hora de enfim escrever a história, compor o texto que iria acompanhar o visual que eu tinha em mente para contar a tal história.

Fiz o roteiro (como se pode perceber pela imagem que ilustra esta postagem) do jeito antigo: a foto aqui, no caso, é do roteiro de Diz Que Duvida!, de dezembro de 2008 (a HQ saiu em 2009), mas trouxe ela pois não encontrei o roteiro original de Abutres no Fim do Mundo. Mas como a ideia inicial de Abutres é de julho de 2009, tenho certeza que ele tenha sido feito do mesmo jeito que Diz Que Duvida! – na “mão grande”!

O roteiro foi feito de maneira bem tranquila: divisão por páginas (já visualizando o espaço que eu queria que tivesse e o meu possível fôlego ou não para começar e terminar o projeto), dentro das páginas a divisão por quadros, e cada quadro com sua descrição de cena e texto. Algo bem tradicional, na verdade, e algo que pode ser feito de outras tantas maneiras, também, mas que acabou sendo o jeito que optei por escrever as duas histórias aqui citadas.

O importante mesmo, penso, é sempre escrever antes.

Seja uma sinopse ou um roteiro mais desenvolvido, isso sempre ajuda muito a organizar as ideias em qualquer projeto, e também pode evitar que você se puxe fazendo cenas arrebatadoras e super bem desenhadas para as quais depois você não saberá fazer uma história que seja condizente com o visual. Escrever antes pode ajudar muito para que o conjunto tenha um bom equilíbrio. E hoje em dia escrever pode ser algo ainda mais tranquilo (eu, quando faço na “mão grande”, faço mais pela minha pilha eternamente old school): mas podemos fazer no PC (que é bem mais rápido, permite edições e facilita a apresentação). Fechada a história, você imprime e está feito. A coisa hoje vai muito pela tua verve – o que, claro, não isenta ninguém de buscar fazer a melhor história que se pode fazer. Sempre. Cair na ideia de que porque existem mais meios as coisas são mais fáceis é sempre uma grande armadilha – e infelizmente aprendemos isso sempre do jeito mais difícil.

Às vezes me perguntam de onde vêm as ideias, e tenho falado muito sobre referencias por aqui (não que as referencias sejam a tábua de salvação, mas mais porque elas dão uma ideia, mesmo que distante, de em qual lugar do universo você resolveu botar seu pensamento na hora de escrever o seu texto), e em Abutres existem duas passagens que surgiram estritamente no textual que são muito legais...
Uma delas está na página 4, e diz respeito ao seriado Lost. O personagem principal, deitado no chão e imaginando a iminente chegada do abutre que lhe bicará os pés, compara a sua situação de estar paralisado e ver seu dedo do pé mexendo com a situação vivida pelo personagem John Locke no episódio piloto da aclamada série de TV. Na série, Locke está enclausurado em uma cadeira de rodas, e fica espantado ao ver que, após o acidente que jogou todos na ilha, ele está deitado no chão e observa seus dedos do pé milagrosamente mexendo! Em  Abutres, o personagem principal vê seu dedo enfim mexendo e compara sua situação com a de John Locke (o link no textual é totalmente direto): ele diz que o que se passou com Locke em Lost foi um verdadeiro milagre (mesmo que na sequencia ele conclua que tudo não passasse de algo criado pela TV) e que a situação dele ali, na realidade do universo ficcional de Abutres, é algo muito mais perigoso. Afinal, Locke saiu andando na ilha, e ele ali não tem a mínima certeza de que conseguirá voltar a andar antes da chegada da noite e dos perigosos abutres...

A outra está na página 5, quando o personagem, já meio desiludido com a possibilidade de que vá conseguir se mexer e sair dali, avista o abutre próximo do seu pé. Ele concluiu que aquilo procede sempre daquele jeito no “depois do fim do mundo”: você tem que ser rápido, ou você irá morrer. Aqui a referência não é explícita, mas está ali. Quando ele cita o “você tem que ser rápido, ou irá morrer”, eu estou falando da música Be Quick Or Be Dead, do Iron Maiden, que é um som que eu estava ouvindo muito na época, e o qual havia tocado em tantas oportunidades. Esta música do Iron Maiden, inclusive, é uma música de alerta – que é exatamente o mesmo espírito todo por trás de Abutres no Fim do Mundo...

Bom, espero que tenham apreciado mais este pedacinho do meu processo criativo que posto por aqui. Semana que vem chegaremos na parte mais massa de todas: a parte das ilustrações! Quem quiser trocar uma ideia, só mandar o recado! Para seguir acompanhando os conteúdos, só acessar  o blog ou a página de Abutres no facebook.


Um bom final de semana para todos, e um grande abraço!

Márcio Rampi – 24 de janeiro de 2014

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