Sobras do processo de Abutres – parte 4 Abutre versus Abutre
Nessa segunda semana falando sobre as referências e extras de Abutres No Fim do Mundo, começo falando sobre o que comecei a trabalhar quando decidi criar a HQ. Existem diversas maneiras de você criar uma história em quadrinhos hoje em dia, é claro, e com a internet e a rápida divulgação da troca de informação e acesso é ainda mais fácil você trabalhar em equipe, por exemplo. No entanto, quadrinhos têm muito de “trabalho solitário”, onde você cria a sinopse e vai em frente fazendo todos os processos: layout das páginas, lápis, tinta, colorização... Em Abutres, tudo foi mais por esse processo solitário de fazer a coisa, e a realidade é que este processo tende, muitas vezes, a ser um processo um tanto quanto caótico, sem regras, onde o quadrinista pode fazer de um jeito totalmente diverso do que se possa ter como um “padrão”. Mas eu penso que seja interessante você buscar, mesmo na liberdade da criação solo, uma certa organização que te possibilite, em um outro projeto, trabalhar com outras pessoas, e por isso é legal você, mesmo podendo fazer tudo de um jeito muito diferente, buscar fazer as coisas dentro de um certo trajeto.
Enfim: “cada caso é um caso”, já diria o detetive, e cada artista tem seus próprios jeitos de levar adiante suas criações. Mas enfatizo: o que vale é sua história ser uma história bacana, bem contada, e nesse caso os fins podem sempre justificar os “meios caóticos”. Não existem regras estabelecidas, mas podemos seguir sempre alguns métodos e seus atalhos.
Quando você tem uma idéia legal, é sempre interessante você escrever ela.
Isso pode ser feito através de uma sinopse detalhada, onde você descreve o que você quer que aconteça na sua história e como isso vai acontecer. Depois, você pode partir para o roteiro propriamente dito. No caso de Abutres, eu fiz isso (e falarei sobre isso na sequência), mas como falei na parte 2, comecei impactado pela figura do abutre bicando o pé do personagem no conto do Kafka. Então, mesmo já sabendo mentalmente o que eu queria fazer (e eu devo ter anotado algo, provavelmente), eu sentia vontade mesmo era de colocar o lápis no papel, para ver o que eu iria compor antes de me botar a escrever a história de fato. Foi meio que uma questão prática para mim: não vou escrever uma história que depois não vá conseguir desenhar (não é regra, mas acaba que se você quer fazer uma história é bom você se certificar de que vai conseguir realizá-la 100%). Foi por isso que primeiro me coloquei a desenhar duas coisas que achava essenciais para o processo (citei isso antes): pés e abutres.
Saí, claro, desenhando abutres, e fiz alguns estudos. Busquei referências fotográficas (sempre é legal você buscar a imagem real do objeto a ser desenhado) e tentei achar outros artistas desenhando o bicho! Depois dessa pesquisa rápida (o computador e a internet facilitam muito isso, hoje, claro... nos anos 90, quando comecei a querer fazer quadrinhos, catar referências era uma lenda: era material impresso que você porventura tivesse em mãos ou ir à Biblioteca...), comecei a desenhar os abutres. Fiz diversos esboços, que começaram a ficar “acabados”, e foi um desses esboços quase “acabados” que escolhi para abrir a HQ em seu primeiro quadro! A imagem que ilustra esta postagem mostra bem: acima, a foto do desenho no lápis (o original), e abaixo o resultado final na HQ, o lápis com pós-produção. Isso foge, evidentemente, da linha toda da HQ (lápis e depois tinta nanquim via bico de pena, pincel e tudo o mais), mas é também uma das facilidades que a tecnologia trouxe para a área da ilustração e para a área gráfica em geral: você pode ter algo que foge da linha que você está utilizando –mas que ficou legal! – e então você pode usar! E eu usei...
Esta primeira cena, saída de um dos esboços mais acabados, foi onde eu concluí que o abutre (personagem) estava pronto. Foi onde os meus esboços saíram do campo de “busca de referência e treino” e chegaram naquilo que percebi que tinha o estilo que eu queria que tivesse – e esse estilo tinha que ser o meu jeito de fazer a coisa, é claro. Depois de ilustrar vários abutres e definir um dos meus personagens, mesmo que de maneira ainda superficial, precisava partir para o outro campo que me motivou a entrar nessa empreitada: os pés!
Espero que tenham curtido mais este post! Na sequência, trago um pouco mais sobre como fiz a composição da segunda premissa desta HQ (a primeira foi o abutre) antes de começar a escrever o roteiro da história. Quem quiser acompanhar também via facebook, só dar uma curtida na página de Abutres no FB e receber as atualizações quando rolarem!
Valeu, e até próxima!
Márcio Rampi – 20 de janeiro de 2014


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