Sobras do processo de Abutres – parte 2 Um pouco sobre quadrinhos, literatura e Kafka
O flerte entre quadrinhos e literatura é algo que tem acontecido bastante nos dias de hoje, e temos cada dia mais e mais publicações desse tipo saindo (algo bom demais, vale frisar): adaptações, inspirações, pirações. Quando participei do Visualizando Citações, que se propunha a criar quadrinhos a partir de citações de grandes autores da literatura, essa conexão HQ´s e literatura provavelmente já acontecesse de diversas formas e há muito mais tempo, mas para nós – os autores daquelas HQ´s – aquilo soava mesmo como algo muito legal de fazer. O bom retorno do público, e a indicação do Visualizando ao Prêmio HQ Mix (mais o lançamento da edição impressa do livro no FiQ2013) foi uma boa mostra que tive, naquele momento, do tamanho que isso tinha (e tem).
Mas imagino que isso não seja exatamente algo novo (não tenho os dados acadêmicos, mas me arrisco a arriscar...). Entre as coisas antigas que tenho de quadrinhos, por exemplo, (e dessa eu vou falar depois, é claro!) está uma adaptação que fiz em 1996 (ou 1997) para um trabalho de escola, onde criei uma HQ baseada em um texto do Dalton Trevisan. Ou seja: já naquele tempo, na minha adolescência, acontecia esse flerte entre HQ´s e literatura. Na época eu nem pensava sobre o processo todo por trás disso, mas são quase duas décadas atrás, e isso, desde que eu lembro, ainda é um tempo considerável...
Pois bem, o fato é que histórias em quadrinhos e literatura são meios que caminham muito próximos. Alguns até falarão dos quadrinhos como literatura, outros dirão o contrário. Eu prefiro apostar na interação dos meios: cada qual com sua linguagem, mas, em alguns momentos, unidos para contar uma boa e (por vezes inusitada) história. Franz Kafka dispensa apresentações, e eu não sou destes de ter “autor preferido” ou algo que o valha, mas Kafka está entre algumas das minhas leituras desde muito, é verdade. Acredito que um pouco do universo criativo pelo qual circulo tenha algo do Kafka (e de tantos outros, é claro), mas a realidade é que eu nunca tinha imaginado utilizar algo do universo ficcional desse autor em específico no meu próprio. Isso até o dia em que encontrei não a obra do Kafka propriamente dita (até porque esta eu já havia encontrado), mas sim ela de um jeito que eu ainda não tinha visto: em quadrinhos!
Foi essa interação entre quadrinhos e literatura que me despertou a vontade de criar, do meu próprio jeito, algo para os quadrinhos que bebesse na inestimável fonte da literatura. Esta adaptação de Kafka para os quadrinhos, por uma verve muito peculiar, acabou me dando o estalo que eu precisava para começar a pensar em Abutres No Fim do Mundo.
Na seqüência, falarei mais sobre isso! Por enquanto, deixo o vídeo aí de cima que assisti faz um tempo que versa exatamente sobre o tema que iniciou este texto: HQ´s e literatura, mas por uma outra pegada: quadrinhos são literatura? Ou não? Vale muito o debate!
Abs para todos,
Márcio Rampi – 16 de janeiro de 2014

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